24 de março de 2016

Zootopia


Lançamento: 17/ 03 ⁄ 2016
Dirigido por: Byron Howard, Rich Moore
Com Monica Iozzi, Rodrigo Lombardi, Ramon Campos e outros
Gênero: Animação , Família , Comédia
Nacionalidade: EUA

Tendo crescido em uma fazenda de interior, Judy Hopps (Monica Iozzi) alimentava o sonho de ser policial desde pequena. Sua família e seus amigos a intimidavam e diziam que nunca havia tido um policial coelho, mas Judy insistiu em seus sonhos e tornou-se a primeira oficial coelha de Zootopia. Sem chances dentro do Departamento de Polícia de Zootopia, a coelhinha recebe um caso que, se ela resolver, pode fazê-la conquistar a confiança de todos. Para solucionar esse mistério, ela vai contar com a ajuda de uma presa, Nick Wilde (Rodrigo Lombardi), uma raposa malandra que pode ou não ser confiável.

Zootopia retoma o espírito de Walt Disney, construindo com muito brilhantismo uma história de superação e de perseguição de sonhos. Por melhores que as últimas animações da Disney estivessem sendo, Frozen e Operação Big Hero tocavam em assuntos mais adultos e bem mais pesados. O filme sensação baseado no conto “A Rainha da Neve” falava do amor que existe entre duas irmãs e de como este sentimento é mais verdadeiro do que qualquer sentimento romântico. Já a animação baseada no grupo de heróis da Marvel emocionava com a história de um garotinho que entra em profunda depressão após a perda de seu irmão e busca por vingança. Zootopia é um filme da Disney como há muito não se vê.

Apesar de uma temática bem antiga, o filme preserva muito do que o estúdio tem construído desde o lançamento de Enrolados. Não apenas na questão gráfica, que preserva o traçado tridimensional dos personagens, mas principalmente no tipo de humor e na dinâmica do roteiro. As viradas de história, a relação dos personagens e a ambientação tem sido um elemento bastante recorrente nesta nova fase da Disney. Quanto ao humor, Zootopia recria o ambiente de Operação Big Hero, enchendo seus cenários de referências a filmes, marcas, produtos e elementos da cultura pop. Por exemplo, a cantora “Gazelle” (que foi traduzido, em português para Gazela) uma referência a cantora Adele, personagem que, curiosamente, é dublado pela cantora Shakira. Outro elemento de humor remonta Frozen, visto que a nova animação  parece cativar um apreço por rir de si mesma, rir dos filmes da produtora e até mesmo anunciar sucessos vindouros. [Preste atenção a um momento onde surge um pôster de um filme chamado “Giraffic”, uma referência a adaptação de João e o Pé de Feijão que a Disney está produzindo e que receberá o nome Gigantic.]

E se você por algum acaso pensou que Zootopia é só um filminho engraçadinho e esperançoso, trate de rever seus conceitos. A história de Judy Hopps fala de algo muito mais sério, fala de machismo e de racismo da forma mais gráfica que se possa imaginar. Judy é uma coelha que, apesar de excelente no que faz e de ter sido a melhor de sua turma, é gravemente desprezada dentro da sua academia e jogada para escanteio, simplesmente pela descrença de que uma coelha não seja capaz de ser policial. Parece familiar? Exatamente, uma clara representação de tudo o que as mulheres passam diariamente em suas jornadas de trabalho. Nick Wilde por outro lado, sofre um outro tipo de preconceito. Por ser uma raposa, acredita-se que suas características “biológicas” sejam dignas de desconfiança, e ele incita medo apenas pela sua aparência. Logo na primeira cena em que surge, uma atendente “elefanta” se recusa a vender para a raposa e pede que ela saia de seu estabelecimento. Ora, ora, esse papo de “características biológicas” já foi bastante utilizado para condenar os negros, não?

Você sabe que o filme é bom quando tem muito para se falar sobre ele, e, acredite, ainda tem mais. Zootopia apresenta um mundo altamente conectado em mídias digitais, exatamente como o nosso. Não bastava serem preconceituosos como nós, os animais ainda são conectados como nós. Não se engane, não é um filme de bichinhos falantes. A forma como a animação lida com a tecnologia é tão natural que nem ao menos percebemos, porque já agimos assim. O ponto mais visual, talvez seja o fato de que Judy não carregava uma lanterna em momento algum, ela usava o flash de seu celular. O filme reproduz o nosso comportamento social e também nossos vícios eletrônicos. [Logicamente, não poderiam faltar as piadas como “Zuber” (Uber) e “Zoozapp” (Whatsapp).]

A dublagem nacional com certeza não é algo para se preocupar. Embora não brilhantes, Rodrigo Lombardi e Monica Iozzi não comprometem em nada a qualidade do filme. Muito embora a dubladora tenha mostrado uma certa dificuldade em reproduzir sons de choro, os dois não chegaram nem perto de ser um desastre (como promete ser a dublagem de Mogli, o menino lobo).


Depois de tanto falatório, não poderia achar o filme menos do que excelente, um trabalho digno de Walt Disney. Um conto de fadas fabuloso e moderno, que fala muito sobre nós mesmos e também sobre os sonhos que deixamos de tentar conquistar por medo de fracassarmos. O brilhantismo da animação e o estudo para que conseguissem trabalhar com personagens em escalas reais é apenas um mero detalhe, uma cereja no bolo magnífico que é Zootopia.


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